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segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011
Mistérios de Piracicaba -4-
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quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011
Mistérios de Piracicaba -3-
Debalde o velho Moreira tentou conciliar o sono naquela noite de folia.
Recordara-se que, como testemunha jurada, ocultara grande parte do que sabia, para não agravar a situação do réu.
Contra ele e os salafrários dos jurados porque não souberam cumprir o juramento prestado com a mão sobre os Santos Evangelhos.
Assim abalado, os fartos goles de quentão, que havia tomado durante a folia, entraram em ação.
Começou a transpirar com abundância e, depois, foi atacado por uma espécie de crise imaginaria que se prendia ao crime praticado por Joaquim Ferraz e o seu pagem.
Desenrolou-se na sua imaginação todo o cenário de sofrimentos da infeliz Manoela Maria: os rodeios e tretas de Ferraz para transviá-la, a vida escandalosa que ambos levaram na tapera velha, durante meses; os ciúmes e ameaças aterradoras do amante; o passeio no carreador do mato até chegar no cerne de cabriúva estendido ao lado do caminho, onde se assentaram até que viesse o negro Paulo, munido de um bom cabo de foice, a súplica que de joelhos, chorando com os braços cruzados na cabeça a amásia fazia para que não a desfigurassem cortando os seus longos cabelos; a ordem áspera dada ao pagem para que desse o golpe mortal; a ferocidade com que cortou os seios da vítima já prostrada no chão e os dois talhos longitudinais feitos no couro da cabeça com o fim de grudar e fixar, com o sangue que vertia e coagulava, a cabeleira grenha; a exumação do cadáver e a sessão do júri, duas únicas cousas que realmente testemunhara.
Estranhou que nesta exumação o cadáver tivesse as feições da mártir Santa Filomena, que vira no quadro pendurado numa das paredes da sacristia da matriz.
Notou também que o júri não se compunha do mesmo pessoal que ouvira com tanta atenção o seu depoimento;—o juiz tinha a figura de José Ribeiro, marido de Manoela Maria; o promotor a de Manoel da Cunha, senhor do sitio onde fora encontrado o cadáver: e os jurados homenzinhos com o tipo de foliões. Distinguiu a figura sua pessoa que se dirigia para prestar o juramento, quando o pulso forte de Manoel da Cunha o deteve, segurando-o pelo braço com um fortíssimo aperto.
Despertou muito assustado e levantou-se com a imaginação muito exaltada.
Durante este estado de excitação fantástica, tomou-se Moreira, de fato, de uma esquisita mistura de grande credulidade e imaginárias visões.
HUGO CAPETO
Mistérios de Piracicaba -2-
AS ASSOMBRAÇÕES DO BAIRRO ALTO -1-
Na manhã seguinte a da noite da folia em casa do Moreira, logo depois do almoço, o cabra pernóstico foi à casa de Joaquim Quaresma, proprietário de várias datas de terrenos no Bairro Alto. Era a ocupação de Quaresma o tirar esmolas para o Divino com uma bandeira bem enfeitada e um bom séquito de tocadores de violas, caixas, adufes e pandeiros, percorrendo as fazendas e povoados cantarolando, recebendo toda a sorte de ofertas que faziam, e, nessa exploração rendosa, era bem tratado e via a todos os dias novas faces e novas cenas. Era considerado como homem viajado e os seus conceitos muito acatados no Bairro Alto.
Logo que o cabra assentou-se, contou com orgulho o efeito que a sua história de assombração produzira no ânimo do velho mineiro. Lavrou um tento, disse-lhe Quaresma, julguei que o meu compadre fosse um dos poucos desabusados desta vizinhança.
É dos desabusados que um abuso com minhas histórias, contadas ao meu modo, atalhou o cabra.
Quaresma ponderou-lhe, então, que fazia mal estar cultivando no ânimo dos pobres crédulos, sem proveito algum, as suas fantásticas visões.
Contou-lhe que o Bairro Alto desvalorizou-se e perdeu muito desde quando reservaram uma das suas quadras de terreno para o Campo da Forca, chegando a ser considerado um lugar assombrado, que as suas casas muito isoladas umas das outras e as suas ruas assemelhando carreadores, eram um campo azado para nele figurarem os Saci-Pererês, boitatás e outras inventivas; que os moradores eram todos descendentes dos antigos povoadores, gente ignorante e supersticiosa, que vinham transmitindo de pais a filhos as histórias de lobisomens, cavalos sem cabeça e assim outras minhocarias, para as quais todos tinham boa disposição para ouvir e grande facilidade em acreditar; que era preciso que este estado de coisa tomasse outro molde e, portanto não continuasse com suas práticas inconvenientes.
Se o meu compadre Moreira, disse Quaresma, deu crédito a você, isto advém, tão somente do fato de ter citado maliciosamente os nomes daquelas duas mulheres e também porque ele mora, há muitos anos, neste decanto onde aninhou-se a superstição.
O compadre Moreira, continuou ele, andou muito tempo aborrecido, depois do julgamento no processo Joaquim Ferraz e seu pajem, porque como testemunha, contou só o que viu e ocultou tudo o que ouvira de sua própria mulher.
É o cãs: a negra Rita, mulher de Paulo, pajem de Joaquim Ferraz, viera à vila trazendo consigo uma rapariguinha sua filha, a fim de sujeitá-la ao tratamento de uma das mãos que fora apanhada e ralada pela cevadeira de mandioca.
Ali na vila, a negrinha gritava a noite toda de dores e, para não incomodar a vizinhança, mudaram-na para uma pequena casa no quarteirão debaixo.
Muito bondosa, vendo a Rita tão isolada e só o que a negrinha teria apenas horas de vida, resolveu fazer-lhe companhia durante a noite.
Era já tarde quando, inesperadamente entrou seu marido, com a cabeça rapada, espantado e trêmulo, o que fez a Rita perguntar, exclamando: O que é que há, meu Deus?
Paulo contou então, que no sítio no fim do carreador de fundo no mato, encontrou-se conforme combinado, com Joaquim Ferraz e a sua amante Manoela Maria, mulher de José Ribeiro; que Ferraz, tomando uma tesoura que trouxe consigo, tosquiou rente os cabelos dele, Paulo, e em seguida os da amante; que isto feito, ordenou-lhe que matasse a infeliz mulher e que, diante das súplicas desta, faltou-lhe o ânimo e então Ferraz, com a faca na mão, dissera: “não queres ficar ferro, negro” que mais de medo de morrer na ponta da faca do que o interesse de ficar liberto, dera a pancada fatal e ela tombou; que em seguida procederam o enterramento além do rumo, em terras de Manoel da Cunha, tendo antes disto ajustado a sua cabeleira na cabeça da defunta; que terminada esta tarefa disse Ferraz: “estamos garantidos., se descobrirem esta sepultura encontrarão entre os ossos os cabelos grenhos e hão de presumir que aqui foi enterrado um escravo de Manoel da Cunha.
Contou mais, que na tarde última, fora descoberto o cadáver e, ao saber disso, o seu senhor dissera-lhe que fugisse para bem longe se não queria ser enforcado.
Nesta mesma noite, morreu a negrinha e depois do enterro a Rita, alucinada e em estado febril, desapareceu, sendo encontrada dias depois, morta, perto do córrego de Nha Flor; toda esfarrapada, cheia de arranhaduras pelo corpo e com as mãos apertando o peito.
O que é assombroso em tudo isto, é que durante o dia quando o compadre Moreira andava procurando no mato de Manoel da Cunha madeiras para lavrar, dirigindo-se para um local onde havia ajuntamento de corvos, ali encontrou a sepultura já violada de Manoela Maria. Nesta mesma noite, a sua mulher aqui no Bairro Alto, desempenhando uma missão caritativa ouvia, sem esperar a narrativa que acabo de contar.
Não tendo minha comadre revelado a quem quer que seja o que ouvira senão do marido, este, atendendo aos pedidos dos parentes de Ferraz, limitou-se a contar o que vira. Só mais tarde, depois do julgamento, quando o próprio Ferraz, um verdadeiro maluco gabava-se em liberdade, de suas ferocidades nessa tragédia é que começou a contar o que sabia.
Hugo Capeto
Observações
Mantivemos o texto tal qual foi apresentado no original, fazendo apenas a correção ortográfica que se fazia necessário.
Seria interessante ler também a introdução aos textos de Hugo Capeto, que está localizado nos Mistérios de Piracicaba -1-.
Apêndice
Adufe: tipo de pandeiro quadrado de origem árabe, feito de madeira leve com membranas retesadas de ambos os lados.
Data: terreno retangular medindo de 20 a 22 metros por 40 a 44 metros.
Desabusado: que não tem abusão, que perdeu a ilusão, preconceito ou superstição.
Carreador: diz-se de ou caminho aberto no meio de uma lavoura.
Azado: que é conveniente, oportuno, propício.
Boitatá: mito indígena simbolizado por uma cobra de fogo ou de luz com dois grandes olhos, ou por um touro que lança figi oekas vendas,
Decanto: qualidade ou condição do que é decantável, exaltabilidade.
Grenho: despenteado, desgrenhado
quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011
Mistérios de Piracicaba -1-
Explicações
Por todas as avaliações que sejam feitas desta cidade, falando de seu explosivo desenvolvimento do início do século XX, de ter sido considerada com um Atheneu Paulista, por ser fonte geradora de múltiplos fatos dentro do ensino, do trabalho, das artes ou até mesmo lugar de vida de figuras ilustres, por ter se envolvido em revoluções, não muito se falou sobre seus costumes, seu misticismo, suas figuras do dia a dia, de sua habitualidade.
Com o firme propósito de vermos expostas facetas pouco conhecidas, eis que partimos em busca de verdades e/ou fatos dentro destas metas. Talvez alguns sejam pouco saborosos. Outros, o tema mostra-se tão irreal, que é obvio a capacidade de criação fantasiosa de quem redigiu.
Em alguns capítulos a serem abordados, o relatado permanece imerso em uma névoa, onde a realidade mistura-se com a ficção, e perdemos os parâmetros para a exata avaliação. Em outros, é nítido que é um fato é ou ficção.
A LOCA DE PEDRA
Quando em 1877 o fragor da dinamite estilhaçando rochas e o rumor cavo e profundo dos alviões rasgando a terra, pouco mais longe onde a cidade acaba, para além do Bairro Verde, anunciavam o advento da primeira linha férrea, em Piracicaba, o local onde deveria construir-se a estação da Sorocabana era uma incógnita que comportava múltiplas soluções para os bons moradores desta antiqüíssima Constituição.
Era esta, pelo menos, a solução dada àquela incógnita pelo antigo piracicabano, coronel José F. de Camargo, senhor de largo descortino comercial e grandes latifúndios, na baixada que fronteia o rio e por onde se estendem hoje a Rua Luiz de Queiroz e adjacências.
Mais de uma década havia decorrido, a hera e o musgo já se estendiam virentes e ovantes sobre a tosca alvenaria rejuntada com cimento, quando o primitivo plano foi modificado e construiu-se e sobradão de meio tijolo, com oito frestas superiores e quatro portas e outras tantas janelas no pavimento inferior, ficando apenas em arcadas obstruídas com tijolos a parte da alvenaria que confina com a Rua do Rocio.
Cortiço de vida noturna intensa pelos seus cubículos virgens de vassoura, onde a poeira negra dos anos decorridos se casa tão magnificamente com o viver anti-higiênico dos moradores, tem passado os vultos mais eminentes do cadastro policial - e à claridade baça das noites enluaradas, sob o rumor estrondoso das águas do Salto, ou nas noites tenebrosas em que o vento Sul fustiga os coqueiros da vargem e levanta em turbilhões a poeira grossa do macadame da rua, muitos dramas sinistros, bastas tragédias sangrentas tiveram por palco o pavimento escuro daqueles cubículos.
O «Prateleira», que atualmente expia numa das prisões da cadeia duas penas por crime de roubo com ferimentos e crime contra a honra iniciou-se na «loca d« pedra», onde o “Totico”, muito antes do conflito que lhe valera um tiro na barriga e vários meses de reclusão à sombra do xadrez, já ensaiava a cabeça contra o ventre dos antagonistas ou movia as pernas num fandango ao som da sanfona fanhosa do «Zé Estanislau»; outro «cabra famoso», lá das bandas de Capivarí, comparsa da «Loca de Pedra», que marca as suas entradas em Piracicaba com alguns pontaços de faca e varias passagens consequentes pelo banquinho dos réus, mas sempre absolvido!
«Rocambole», «Guilhermino», Japonês, épicos varões da faca ou do porrete e tantos outros, cuja nomenclatura encheria tiras e tiras de papel e cujas façanhas enchem a crônica do cortiço, justificando a alcunha que circunda como uma auréola de fastígio — "Loca de Pedra"!...
Se a fauna que a frequenta tem produzido tantos e tais espécimes, que avultam nos prontuários da Delegacia de Policia, não menos interessante é a flora que nele vegeta e também merecia uma descrição sucinta e breve.
Eu desejaria apresentar a todos a tia Tereza, matrona precoce, curtida dia e noite pêlos vapores nauseabundos de uma cachaça ordinaríssima, a Julinha, um tenro botão de quinze anos de idade apenas e também fanado pelo álcool causticante de vastas camoecas , a Libânia Rita louçan e dengosa, um ciúmes vivo para as outras saias e um perigo constante a pairar por sobre os corações do sexo de calças, mas...já o galo cantou pela terceira vez: já o oriente empalidece ao clarão difuso das luzes da madrugada e tudo anuncia que o meu poder diabólico e evocativo é findo.
HUGO CAPETO
Loca: pequena gruta, furna, lapa.
Camoeca: doença passageira, sem gravidade; achaque, embriaguez.
Ovante: triunfante, vitorioso.
domingo, 6 de fevereiro de 2011
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EXEMPLO.. DE.. VIDA
Um povo sem passado
É um povo sem futuro
Neste mundo nada é estático. Tudo muda, molda-se, originando outros valores. E os primeiros valores vão sendo relegados a um segundo plano, caindo em desuso e finalmente, são varridos da memória humana por perderem a finalidade essencial pelo que existiram. Acabam sendo totalmente exterminados. É como dizia o poeta, “morrer totalmente que nem o nome subsista na memória de quem quer que seja...”
O fato que desejamos abortar é a fase inicial do desaparecimento de algo, especificamente neste caso, uma das fases do automobilismo em Piracicaba.
Esta proibição somente veio a acontecer no Brasil na segunda metade do século XX. Até nesta fase eram aceitas as corridas de rua, dentro das cidades. Não havia profissionalização entre os corredores, somente os novatos e os mais experientes. Os carros eram patrocinados pelas fábricas. Mas havia aqueles que retiravam valores do bolso e iam à luta.
Maks Weisel foi um destes corredores. Abraçou Piracicaba como seu torrão natal, e entre sangue e lágrimas, erigiu o monumento que é sua vida. Destemido, sangrando os próprios bolsos para manter seu carro, foi um dos audazes pilotos ainda desta “fase romântica final” do automobilismo. Enfrentou as célebres corridas de rua não só em Piracicaba, mas em diversas cidades do Brasil. Teve suas glórias e decepções, sucessos, frustrações e angústias. Defendeu o automobilismo competitivo com extrema garra. Agiu tentando estabelecer um autódromo em Piracicaba.